domingo, 9 de agosto de 2015

Intimus

De todas as coisas que sinto,
de fato, nada sei.
Sentir basta,
E a intensidade compensa
a ausência dos motivos,
dos conceitos.
Eu deixo o discurso dos sentidos
falar mais alto, falar mais tempo,
revelando o que em mim
há de entrega,
de submissão.
Se deixo a razão falar,
e tentar me dar motivos,
muitas vezes sinto paz,
mas quase sempre,
durmo.
Se no entanto, fala a vontade,
os sentidos não se contentam,
me envolvem,
me deixam,
retornam,
e fico cego de tanto vislumbre,
mudo de tantas balbúcias,
surdo de tantos apelos,
louco de tanto cuidado...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Da vontade de amar a si mesmo

E se você tiver coragem, a gente pode ir pra onde você não quis mais voltar,
e eu juro que se você não conseguir seguir em frente a gente para, 
mas se você conseguisse ir mais além, eu juro, quase nada seria tão incerto.
O esquecimento jamais será uma cura, somente um analgésico que com o tempo vai perder o efeito,
e mesmo as coisas mais escondidas nos fazem mal, nos tornam secos.
Eu sei que algumas marcas ficam, mas as dores podem evaporar com as lágrimas
e as cicatrizes podem nos contar os dois lados de uma mesma história.
As sementes germinarão sempre em direção a luz,
e se nada floresce, se nada deslumbra,
é por que existe algo brilhando, por menor que seja, dentro das nossas almas.
Conhece-te a ti mesmo!
Mesmo que estranho, insistir parece ser um remédio adequado a dor
e viver amando parece ser um jeito virtuoso de viver;
E mesmo só tendo certeza da própria existência, e assim, só podendo conhecer realmente a si mesmo,
ainda temos dificuldade de encontrar algo bom em nós:
os outros, as ilusões, as idealizações, parecem mais agradáveis ao espírito.
Há coragem em querer saber o que se é,
e mais coragem ainda para desenterrar baús antigos;
Há quem insiste em ter um amontado de entulho ou um ferro-velho dentro de si,
mas seria mais saudável para todos nós se ao invés do velho tivéssemos o antigo;
Se no lugar do simplório nós tivéssemos as particularidades;
Se no lugar de um aterro tivéssemos dentro de nós um antiquário,
desses que ninguém conhece, mas se encanta por que é singular - o que não implica em ser maravilhoso;
Desses que poucos conhecem e, se conhecem, é por que alguém os levou até lá - porque é dessas coisas que não se descobre sozinho: 
Só entra quem a gente quer, só ficam até enquanto quisermos,
mas não machuca, não assusta, não desespera, pois são normalidades e trivialidades da vida. 
Nada de extraordinário mas também nada de ordinário e vazio:
um pouco de nós mesmos para nós mesmos e para quem quisermos.
Vale a pena perder o tempo quando tivermos algum para perder: 
a vida é rara e demoraremos uma vida inteira, talvez, tentando entender certas coisas, 
mas a dúvida não deve causar dor, apenas encantamento. 




sexta-feira, 17 de outubro de 2014

reflexões poéticas #Nº1

Algumas mal traçadas linhas para poetizar minhas manhãs, 
(17/10/14)

Sou forasteiro de mim mesmo
em uma caminhada cheia de coisas vazias
não sei do que eu gosto, do que desgosto
não sei se eu fui, se vim: eu estou apenas indo
admirando as inéditas repetições
com os seus detalhes ignorados
revendo as novidades que no passado ficaram sem revelação
é uma grande refazenda do incriável
uma paisagem interminável dentro de cada afinidade
e um olhar distante ... 
apressado por desconhecer tudo aquilo que há dentro de mim
com vontade de ser perdido, de sentir dor até não saber descrever
e ser feliz por não saber definir-se, nem em seus pequenos desejos humanos
se desconhecer, se esquecer
dormir em paz sem questionar sobre nada nesse mundo
dormir dormente ao ponto de não sentir a própria existência 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre o destino das palavras e do poeta

Cada palavra entre nós
viaja agora no infinito do ar
e há de encontrar outro infinito particular,
e há de desfazer os nós,
os eus,
a quinta parte de nada que cabe de mim

E cada palavra eternizada, cada risada e sorriso falso
vai ecoar além das nossas existências
vai ressoar nas incontingências da vida
Vai resvalar nas feridas, nas perdas,
nas avenidas e nas tristezas
nas promessas e nas aparências.

Restará por fim o silêncio da despedida,
a alegria contida na ausência dos sons,
a lágrima que cala,
que põe sentinelas nos nossos lábios

Restará por fim a noite,
um pouco da dor do mundo,
uma indiferença pelo profundo
e uma alegria rasa
de quem faz poesia pra submergir
na poça d'agua da existência

Que um dia vai evaporar
no calor do vento da morte
e como peixes fora do aquário
vamos nos debater e transitar para o infinito
de onde as nossas palavras vieram
e aonde vamos novamente encontrá-las

O vento que trás a poesia ainda há de levar o poeta

domingo, 24 de agosto de 2014

Entre os lençóis incandescentes

Chove lá fora
e eu me aqueço no calor da língua tua, quente,
enquanto as nossas palavras de carinho evaporam 
e embaçam os vitrais dos teus olhos. 

Pudesse eu te chamar pelo que sinto 
quando meu corpo toca o teu,
te chamaria mistério, 

Mas como admirador 
da tua voz e das tuas formas, 
só cabe a mim chamar-te minha. 

E os segredos meus
nas trevas minhas entranhados
Ei de os revelar no relento do teu dorso
e no repouso dos teus ouvidos

Quantos desejos cabem dentro de ti?
talvez a noite saiba, mas silencia
por que do silêncio ao infinito é quase uma vida
e uma vida é curta demais pra nós dois

E o fogo que levamos dentro de nós
nos lençóis incandescentes desacreditados
são testemunhas mortas de nosso vivo descaso
com o mundo e com as regras pueris

Só o tempo indecente que rege nossos gestos
pode eternizar as nossas alucinações
suspendê-las no ar
e trazê-las de volta num toque, num gesto
num olhar